Depois de um ano vivendo e adaptando tudo o que a tecnologia permitia ao dia a dia das pessoas, o consumo, de uma forma global, ganhou um novo significado. As vendas on-line foram protagonistas no mercado, as redes sociais se estabeleceram como ponto de contato entre marcas e consumidores e varejistas tradicionais que não se adaptaram à restrição do contato físico entraram em declínio.
Nesse cenário, novas tendências e expectativas surgiram. Num mundo lotado de soluções tecnológicas, a pandemia tornou mais clara a importância de dar autonomia e treinamento aos funcionários, humanizar os atendimentos e transformá-los em reais influenciadores da marca.
A resiliência das empresas, a jornada do consumidor, a busca por produtividade, a importância do propósito e outros pontos foram discutidos durante o Retail’s Big Show, maior evento de varejo do mundo, promovido anualmente pela National Retail Federation (NRF), nos Estados Unidos.
Pelo segundo ano consecutivo vivendo uma pandemia, muitas coisas se repetiram e outras evoluíram. De acordo com Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, esse ano, o evento discutiu bastante a pandemia e como o novo coronavírus vai impactar na jornada de compra do consumidor. Termos como ESG, Social Selling e fulfillment foram abordados como prioritários nessa transição do varejo em meio a tantas dificuldades. Entenda o que elas significam:
ESG (Environmental social governance) – A consciência ambiental e social trazida pela sigla já se apresenta como algo determinante, que deveria estar no centro da estratégia das companhias, segundo Terra. Não apenas pelas questões regulatórias ou pelo que bancos e investidores demandam, mas porque as pesquisas deixam isso muito claro – os consumidores passaram a escolher marcas e lojas a partir disso.
“Diversos eventos e episódios sociais marcaram o ano de 2020 e também o início de 2021, nos mostrando a relevância que as questões da diversidade e ambiental têm tomando. Não se trata mais de uma agenda coadjuvante, essa postura passa a ser protagonista nas empresas”, diz.
Always on– Uma pesquisa da Ericsson, divulgada em 2019, aponta que até 2022 haverá cerca de 29 bilhões de dispositivos conectados no mundo todo (três vezes mais do que a população humana). Neste contexto, 75% da população mundial terá acesso à internet e o 5G será uma realidade dominante.
Ou seja, caso essa previsão se confirme, a tendência de Always on (sempre conectados) que já é muito forte atualmente, será reforçada em menos de um ano. Conectadas o tempo todo umas às outras e às suas marcas favoritas, as pessoas estarão mais informadas e capacitadas do que nunca. Esse poder e maior acesso a novas experiências devem provocar convergências entre os canais, que precisarão estar mais alinhados do que nunca.
Live shop streaming– Na era das lives, a empresa encontrou um jeito diferente de se comunicar com o consumidor. O novo conceito chamado de live shop streaming é uma mistura de um comércio eletrônico tradicional com transmissão ao vivo, muito comum na Ásia.
“Na china, ja é algo super relevante para se vender no e-commerce e no varejo em geral. Ainda vamos falar muito disso no Brasil – é uma forma diferente de interligar loja física e e-commerce”, diz Terra.
O novo formato já é utilizado pela Nespresso. Parece até um programa de televisão – tem estúdio, uma espécie de apresentadora, oito horas diárias de conteúdo direcionado – mas, na verdade, é uma loja virtual. A partir de sua unidade butique na Rua Oscar Freire, em São Paulo, a empresa oferece conteúdo diário ao vivo com especialistas, palestras, receitas e dicas de harmonização de café em que consumidores podem tirar dúvidas e comprar seus produtos escolhidos.
Fulfillment– Uma das práticas atuais mais importantes no e-commerce em relação à logística é o fulfillment – uma operação que agiliza desde a separação no estoque até a entrega do produto ao cliente. No Brasil, o conceito é aplicado pelo Mercado Livre, que armazena o estoque de seus principais vendedores.
Preço baixo não é mais o principal critério na decisão de compra – o consumidor valoriza a experiência que o e-commerce proporciona: comodidade e velocidade. O cumprimento de prazos e as condições de entrega de produtos têm alavancado muitas empresas em tempos de pandemia.
De acordo com Terra, quando o varejo vendia da loja para o consumidor ou da internet para o consumidor, a maneira de pensar o supply chain (gestão da cadeia de suprimentos) era mais simples. Hoje, com a omnicanalidade, o consumidor tem múltiplas formas de comprar e o varejo múltiplas formas de entregar.
“Isso gerou uma complexidade de pensar produto, cliente, ponto de venda, logística e entrega, e fez com que toda aquela arquitetura existente de tecnologia, loja e centro de distribuição não funcionasse mais. Então, novas tecnologias, novas arquiteturas de dados, novos processos e novos treinamentos tiveram que surgir”, explica Terra.
Social selling – Com o crescimento das redes sociais, houve uma tendência de usá-las como ferramenta de vendas. Chamada também de venda social, o movimento é focado na criação de relacionamentos e vendas por meio das redes sociais. As empresas podem usar plataformas como Facebook, LinkedIn, Twitter, Instagram e TikTok para oferecer insights, interagir com os clientes – nada parecido com aquele modelo de venda direta com uma abordagem incisiva.
É preciso entender o ambiente das redes sociais e como aproveitar o poder de interatividade e relacionamento para se aproximar dos consumidores e gerar mais vendas por lá. A partir de suas postagens, é possível oferecer conteúdo de valor para construir sua credibilidade no longo prazo, sem pressa para fechar vendas.
Lembre-se que hoje, além de cultivar relacionamentos, as redes sociais são muito utilizadas para pesquisar e dentro dessas redes, essas buscas ganham velocidade, escala e eficiência. Por isso, ganha quem oferecer mais.
Por Mariana Missiaggia 18 de Março de 2021 às 08:14
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